Representar nem sempre é dar voz à maioria

APG Unicamp participa da posse da nova diretoria da associação de docentes de Unicamp

Primeiro de junho de 2022. Agradeço o convite para estar nessa cerimônia, e em nome da gestão “Paulo Freire” da Associação Central de Pós-Graduação da Unicamp, saudar a nova gestão da ADunicamp, que hoje recebe o resultado do intenso trabalho da antiga diretoria e das que vieram antes.

Minha mensagem hoje é reafirmar a importância de entidades representativas como a ADunicamp e desejar um bom caminho para a nova gestão. E para isso, vejo que não preciso dizer que a luta por uma universidade pública, de qualidade, socialmente referenciada é contínua e incansável.

Os estudantes, em especial os da pós-graduação, passam muito rápido pela universidade em comparação aos docentes. E para responder isso, costumo dizer que os primeiros 200 anos da universidade pública são sempre os mais difíceis. Temos a sorte e o desafio de vivermos os primeiros 200 anos da Unicamp.

Quando comecei a representação discente na USP Ribeirão Preto há 6 anos, tinha a vontade de fazer uma representação bastante democrática. Estávamos discutindo a adesão da USP ao SISU e tive a ideia de consultar os alunos sobre o que eles achavam de destinar 15% das vagas para estudantes de escolas públicas pretos, pardos e indígenas.

Os estudantes disseram em sua maioria que não queriam as vagas. E eu olhei para o lado e vi pessoas que haviam passado no vestibular, poucos de escolas públicas, poucos negros, nenhum indígena. E comecei a perceber que representar nem sempre é dar voz apenas ao que a maioria deseja. Às vezes isso também significa representar os que vieram antes de nós e os que estão por vir. E eles vieram!

Foi assim que vi o rosto da universidade mudar. Hoje, a universidade pública é muito mais universidade do que quando passei no vestibular. Também é mais pública, mas está sempre ameaçada. Acredito que os retrocessos que estamos enfrentando na educação e em todas as áreas vão ser superados se transformarmos as reivindicações e particularidades de cada categoria em uma luta comum.

A luta comum envolve a própria democracia, condições dignas de trabalho, por salário justo, por valorização do serviço público e contra a precarização das relações de trabalho. Quando pensamos numa universidade com autonomia, pensamos nos que virão. Quando queremos melhores condições de trabalho, nós pensamos no que virá. Esse é o trabalho de representar. Temos uma obrigação conjunta de dialogo constante, de união entre os setores da universidade e de colocar um fim no sofrimento que está atingindo a população brasileira. A educação e a ciência são o caminho.

Por isso saúdo a disposição da nova diretoria para continuarmos a luta pela universidade, pela educação, pela autonomia universitária, pela democracia. A Unicamp saberá responder, como sempre soube, todos esses ataques à altura. Viva a ADunicamp!




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